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sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Será o fim da infertilidade masculina?

Acabou-se a infertilidade masculina! Raríssimos homens deixarão de ser pais! Entretanto, toda estória tem duas versões e dois pontos de vista. A ICSI surgiu sem nenhuma experiência em animais, surgiu diretamente em humanos e para humanos. Sabemos que cerca de 25% dos homens com oligospermia grave ou azoospermia (os que têm indicação precisa para ICSI) apresentam alterações cromossômicas ou micro-deleções do cromossomo Y. Por sua própria infertilidade, estas alterações eram limitadas. 

Agora não, podemos usar espermatozóides de indivíduos com Síndrome de Klinefelter, de homens com agenesia de deferente (portadores do gene da fibrose cística), com translocações equilibradas e obter crianças com doenças semelhantes ou mais graves que as dos pais. Isto precisa ser discutido com o casal e estes homens devem ser submetidos a um exame e a aconselhamento genético. 

No New York Hospital da Cornell University de Nova York (EUA), 26% dos casais desistiram de fazer ICSI, quando descobriram que o homem era portador de algumas destas anormalidades genéticas. Por outro lado, a ansiedade gerada pela infertilidade, a aparente simplicidade dos métodos e o forte apelo econômico que as técnicas de reprodução assistida apresentam, fazem com que casais e médicos passem a ver a ICSI como a panacéia de todos os males. Para que operar a varicocele? Por que reverter a vasectomia? Entretanto, aqui também temos outros aspectos. 

Os grandes levantamentos estatísticos (American Society of Reproductive Medicine, FIV-Nat da Europa e o Registro Latinoamericano), e não dados isolados de serviços específicos, mostram que as taxas de gestação obtidos por ICSI giram ao redor de 20 a 25% e a taxa de bebês que efetivamente nascem e vão para casa é de 14 a 18%. Ou seja, de cada 100 casais, 18 vão conseguir o seu sonho em cada tentativa. Muito longe de ser uma panacéia. 

Vamos tomar a reversão da vasectomia. O que vale mais a pena, reverter com micro-cirurgia ou aspirarmos espermatozóides, no epidídimo ou testículo, e fazer ICSI? Sabemos que, à medida que o tempo passa, diminui o potencial de fertilidade do homem vasectomizado. A Cooperativa Americana de Vaso-Vasostomia mostrou que, após 15 anos de vasectomia, a chance de um homem ejacular espermatozóides após a reversão (sucesso técnico) é de 70% e a chance de obter uma gestação é de 30%. Ou seja, esta chance existe! 

A utilização de ICSI em homens vasectomizados transfere para a mulher a infertilidade do homem, expondo-a a riscos talvez desnecessários. A possibilidade de acontecer uma síndrome de hiper-estimulação ovariana varia de 1,5 a 5% e, em algumas situações, a paciente pode correr risco de vida, necessitando de cuidados intensivos. É claro que não existe uma conduta uniforme. Não se vai propor reversão da vasectomia para um casal onde a mulher esteja próxima aos 40 anos. Aqui, o tempo é fator decisivo e a realização de ICSI vai oferecer melhores possibilidades ao casal. Seguramente, a ICSI foi o acontecimento mais maravilhoso para nós que tratamos de homens inférteis. Mas esta arma tem que ser usada com parcimônia e sabedoria, e o casal tem que participar das decisões e receber todas as informações. Existem tratamentos menos fantásticos, porém, menos agressivos e que podem ajudar alguns casais. Eles devem deter o poder de escolher o que preferem.